(Rio de Janeiro/RJ, 17 de maio de 1887 ******* Rio de Janeiro/RJ, 12 de janeiro de 1974)
João Machado Guedes, popularmente conhecido como João da Baiana, era filho de Félix José Guedes e Perciliana Maria Constança. Seus avós, ex-escravos tinham uma quitanda de artigos afro-brasileiros no Largo da Sé. Sua mãe, conhecida pelo nome de Tia Perciliana, era baiana, donde surgiu seu apelido, João da Baiana, para distingui-lo de outros Joões do bairro.
Foi criado na Rua Senador Pompeu, no bairro da Cidade Nova, onde tomou lições de cartilha com D. Maria Josefa. Na infância, teve como companheiros os futuros compositores Donga e Heitor dos Prazeres. Seus pais constantemente promoviam festas de candomblé, para as quais deviam tirar licença com o chefe de polícia, pois na época o samba, a batucada e o candomblé eram manifestações proibidas.
Sua mãe teve 12 filhos, todos baianos, exceto ele. Um de seus irmãos - O Mané - era palhaço do Circo Spinelli e tocava violão e cavaquinho. Uma de suas irmãs tocava violino.
Começou a compor sambas desde garoto. Sua mãe apreciava os dotes do menino para a batucada, o candomblé e a macumba, dotes que o destacavam de seus irmãos.
Iniciou-se no pandeiro, instrumento para o qual tinha grande aptidão. Segundo seu depoimento ao M.I.S, que abriu em 1966 o ciclo de depoimentos para a posteridade, de larga repercussão no Rio e em todo o país, "eu sempre me dediquei ao pandeiro porque tinha amor ao ritmo. Os garotos formavam uma roda de samba e eu é quem tocava melhor o pandeiro".
Ainda menino, trabalhou no circo como chefe da claque dos garotos que respondiam ao "Hoje tem marmelada ? Tem sim senhor". Por essa época, passou a se dedicar à pintura, uma grande paixão do compositor.
Aos nove anos, ingressou como aprendiz no Arsenal da Marinha. Deu baixa três anos mais tarde, passando então a trabalhar no 2º Batalhão de Artilharia, como ajudante de cocheiro sob o camando de Hermes da Fonseca, futuro Marechal e Presidente da República.
Em 1908, quando se apresentava na tradicional Festa da Penha, teve seu pandeiro apreendido pela polícia. O senador Pinheiro Machado, que era seu admirador e que frequentemente promovia festas em "seu" palácio no Morro da Graça, o convidou para uma dessas festas e como ele não apareceu, quis saber o porquê. Ao saber que o instrumentista tivera seu pandeiro apreendido, resolveu presenteá-lo com um novo padeiro, que trazia a seguinte inscrição: "Com a minha admiração, ao joão da Baiana - Pinheiro Machado". Com essa dedicatória do senador, pode voltar por diversas vezes à Festa da Penha, como integrante do Grupo do Malaquias, sem que a polícia fosse atormentá-lo.
Em 1910, passou a trabalhar no Cais do Porto, sendo promovido a fiscal, em 1920. Por esse motivo, não acompanhou "Os oito batutas" à Paris, pois não queria trocar seu emprego certo pela aventura.
Aposentou-se em 1949. Casou-se e teve dois filhos que morreram ainda na infância.
Foi o responsável pela introdução do pandeiro no samba. Segundo depoimento prestado ao M.I.S. " na época o pandeiro era só usado em orquestras. No samba quem introduziu fui eu mesmo. Isto mais ou menos quando eu tinha oito anos de idade e era Porta-machado no "Dois de Ouro" e no "Pedra do Sal". Até então nas agremiações só tinha tamborim e assim mesmo era tamborim grande e de cabo. O pandeiro não era igual ao atual. O dessa época era bem maior".
Em 1924, compôs com Donga e Pixinguinha o samba "Mulher cruel". Em 1928, ingressou no rádio como ritmista, tocando pandeiro, prato e faca, tendo atuado nas Rádios Cajuti, Transmissora, Educadora e Philips. Em 1930, teve o samba "Pelo amor da mulata", sua primeira composição, feita sete anos antes, gravado na Odeon por Patrício Teixeira, que gravou também no mesmo ano o samba "O futuro é uma caveira".
Em 1931, passou a integrar o "Grupo da Guarda Velha", conjunto organizado por Pixinguinha que reuniu alguns dos maiores instrumentistas brasileiros da época. Realizaram quatro gravações na Victor, acompanhando também grandes cantores como Carmen Miranda, Sílvio Caldas, Mário Reis, Jonjoca e Castro Barbosa, entre outros. O primeiro disco da Guarda Velha, gravado em dezembro daquele ano, trazia o partido alto "Há! Hu! Lahô" e a chula raiada "Patrão prenda seu gado", as duas de sua parceria com Pixinguinha e Donga. Ainda no mesmo ano, gravou o samba "Viva meu orixá", no lado B de um disco que trazia no lado A, o cantor Francsico Sena interpretando, de sua autoria o samba "Convencida".
No ano de 1932, Patrício Teixeira gravou os sambas "Quem faz a Deus paga ao diabo", "Cabide de molambo" e "Ai Zezé", este uma parceria dos dois. A respeito do samba "Cabide de molambo", afirmou em histórico depoimento ao MIS: "Eu acho que este samba inspirou o Noel Rosa a fazer o "Com que roupa". No mesmo ano, outras duas parcerias com Donga e Pixinguinha, a batucada "Já andei" e a macumba "Que queré", foram gravadas pelo Grupo da Guarda Velha, com Zaíra de Oliveira e Francisco Sena. Ainda em 1932, o cantor Francisco Sena lançou a batucada "Vi o pombo gemê" e a macumba "Xou coringa". Atuou em vários conjuntos entre os quais o "Grupo do Malaquias", o "Grupo do Louro", o "Conjunto dos Moles" e o conjunto "Alfredinho no Choro". Em fins de 1932, Pixinguinha organizou na RCA Victor a orquestra "Diabos do céu", com alguns dos integrantes do Grupo da Guarda Velha, grupo que estreou em disco acompanhando Carmen Miranda na gravação de "Etc", samba de Assis Valente.
Donga e Pixinguinha foram seus parceiros no arranjo da antiga chula raiada "Patrão, prenda seu gado". Conhecedor do candomblé, gravou diversos corimás, com algumas palavras em dialeto africano, cantadas no início das sessões de candomblé. Em 1936, seu samba "Seu pai não quer" foi gravado na Victor por Castro Barbosa. Em 1937, Pixinguinha reuniu quatro músicos,Tute (violão de sete cordas), Luperce Miranda (cavaquinho), Valeriano (violão de seis cordas) e João da Baiana (pandeiro), formando o conjunto "Os cinco companheiros", que atuou no Dancing Eldorado e no Palácio Guanabara com Vicente Celestino e Gilda de Abreu.
Em 1938, gravou na Victor com seu conjunto as macumbas "Sereia" e "Folha por folha", parcerias com Getúlio Marinho. No ano de 1940, Leopoldo Stokowski solicitou a Villa-Lobos que selecionasse e reunisse os mais representativos artistas de Música Popular Brasileira, para gravação de músicas destinadas ao Congresso Pan-Americano de Folclore. Villa-Lobos incluiu no grupo escolhido a nata dos verdadeiros criadores nacionais de música: Pixinguinha, Cartola, Donga, João da Baiana e Zé Espinguela. As gravações realizaram-se na noite de 7 para 8 de agosto de 1940, a bordo do navio Uruguai atracado no Armazém 4. Foram registradas 40 músicas e apenas 16 chegaram ao disco, reproduzidas nos Estados Unidos em dois álbuns de quatro fonogramas cada um, sob o título "Columbia presents - Native Brazilian music - Leopold Stokowski".
Em 1952, lançou os ritmos afro brasileiros "Lamento de Inhançã" e "Lamento de Xangô", de sua autoria. Por quatro anos seguidos, gravou anualmente um disco intitulado "João da Baiana no seu terreiro", interpretando pontos de macumba de sua autoria. Em 1954, Almirante organizou em São Paulo o I Festival da Velha Guarda, reunindo vários músicos veteranos. No segundo Festival da Velha Guarda, a caravana carioca formou em caráter regular um conjunto denominado Velha Guarda do qual faziam parte, elém dele, Pixinguinha, Donga e Alfredinho Flautim, entre outros . Em 1955, alcançaram sucesso na Boate Casablanca, constituindo a grande atração do show Zilco Ribeiro. Nesse mesmo ano, o grupo gravou seu primeiro LP na Sinter "A Velha Guarda" seguido de um outro "Carnaval da Velha Guarda".
Ainda na década de 50, em 1957, lançou com Sussu pela Odeon o LP "Batuques e pontos de macumba", no qual interpretou "Quê, quê, rê, quê, quê", "O cachimbo da vovó", "Nanan Boroque" e "Amalá de Xangô", todos de sua autoria.
Em 1966, foi convidado por Ricardo Cravo Albin, depois do seu nome ter sido sufragado pela unanimidade do Conselho Superior de MPB do MIS, para realizar o primeiro depoimento para a posteridade do M.I.S., que não só abriu o ciclo como também definiria a estrutura principal do museu junto à opinião pública de todo o país. Este seu histórico depoimento obteve grande repercussão na imprensa e deu por inaugurado, junto à mídia, o próprio museu, então desconhecido.
Em 1968, foi lançado o LP "Gente da antiga", produzido por Hermínio B. de Carvalho para a Odeon contando além de sua participação, com as de Clementina de Jesus e Pixinguinha. No mesmo ano, lançou na Bienal do Samba da TV Record o samba "Quando a polícia chegar", defendido por Clementina de Jesus. Segundo Ricardo Cravo Albin, foi, além de exímio pandeirista, e além de uma doce e inesquecível figura humana, um dos grandes ritmistas do prato com faca, habilidade que aprendeu ainda na infância, por influência de uma tradição cultivada na Bahia.
Em 1972, foi recolhido à Casa dos Artistas, em Jacarepaguá, onde morreu dois anos depois.
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