terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Wilson Batista de Oliveira (Campos, 3 de julho de 1913 — Rio de Janeiro, 7 de julho de 1968) foi um compositor brasileiro.



(Biografia)

Filho de um guarda municipal de Campos, ainda menino participou, tocando triângulo, da Lira de Apolo, banda organizada por seu tio, o maestro Ovídio Batista. Ainda na cidade natal, fez parte do Bando, para o qual compunha algumas músicas e, pretendendo aprender o ofício de marceneiro, freqüentou o Instituto de Artes e Ofícios.

No final da década de 1920, transferiu-se com a família para o Rio de Janeiro. Passou então a freqüentar os cabarés da Lapa e o Bar Esquina do Pecado, na Praça Tiradentes, pontos de encontro de marginais e compositores, tornando-se amigo dos irmãos Meira, malandros famosos da época, cuja amizade lhe valeu várias prisões. A seguir, começou a trabalhar como eletricista e ajudante de contra-regra no Teatro Recreio.

Com 16 anos, fez seu primeiro samba, Na estrada da vida, lançado por Aracy Cortes no Teatro Recreio e gravado em 1933 por Luís Barbosa. Acredita-se que sua primeira parceria tenha se dado com o compositor José Barbosa da Silva, o Sinhô, no samba de breque Mil e Uma Trapalhadas, cuja gravação aconteceu apenas na década de 60, pelo cantor Moreira da Silva. Seu primeiro samba gravado foi Por favor, vai embora (com Benedito Lacerda e Osvaldo Silva), pela Victor, na interpretação de Patrício Teixeira, em 1932. A partir de então, passou a fazer parte da Orquestra de Romeu Malagueta, como crooner e ritmista (tocava pandeiro).

Em 1933, Almirante gravou sua batucada Barulho no beco (com Osvaldo Silva) e três intérpretes (Francisco Alves, Castro Barbosa e Murilo Caldas) divulgaram seu samba Desacato (com Paulo Vieira e Murilo Caldas), que fez muito sucesso.

Sempre freqüentando o mesmo ambiente de boêmia, fez a apologia do malandro no seu samba Lenço no pescoço, já gravado em 1933 por Sílvio Caldas, que deu início à famosa polêmica com Noel Rosa, o qual respondeu no mesmo ano com Rapaz folgado, contestando a identificação do sambista com o malandro. Sua réplica a Noel veio no samba Mocinho da Vila. Fora do contexto da polêmica, Noel Rosa e Vadico compõem o Feitiço da Vila. No Programa case, Noel improvisa (sem gravar) duas novas estrofes para o Feitiço da Vila e, em cima dos ‘novos’ versos, Wilson compõe Conversa fiada, ao qual Noel contrapôs, em 1935, o samba Palpite Infeliz. O caso terminou com dois sambas seus, Frankenstein da Vila e Terra de cego, que não tiveram resposta. Os dois polemistas conheceram-se entre um e outro desafio e tornaram-se amigos. As músicas dessa polêmica foram reunidas, em 1956, num LP de dez polegadas da Odeon, cantadas por Roberto Paiva e Francisco Egídio - Polêmica.

Continuando sua vida de boêmio-compositor, vendendo sambas e fazendo parcerias "comerciais", conheceu, no Café Nice, na Avenida Rio Branco, o cantor e compositor Erasmo Silva, com quem formou um conjunto, com Lauro Paiva ao piano e Roberto Moreno na percussão. Com o conjunto, realizou apresentações em Campos RJ e, de volta ao Rio de Janeiro, formou, em 1936, uma dupla com Erasmo Silva - a Dupla Verde e Amarelo - que participou da vocalização da orquestra argentina Almirante Jonas, que estava de passagem no Rio de Janeiro, seguindo com ela para Buenos Aires, Argentina, onde ficaram por três meses, ainda em 1936. De volta ao Brasil, trabalharam durante mais de um ano na Rádio Atlântica, de Santos SP, e, depois, na Record, da capital paulista, onde também gravaram, com as Irmãs Vidal, pela Columbia, seu primeiro disco, com Adeus, adeus (Francisco Malfitano e Frazão) e Ela não voltou (dos mesmos compositores e mais Aluísio Silva Araújo). Obtendo certo sucesso, seguiram para uma temporada em Porto Alegre RS, voltando a São Paulo para trabalhar na Rádio Tupi.

A fama viria em 1938, quando a dupla foi contratada pela Rádio Mayrink Veiga, do Rio de Janeiro, mas já no ano seguinte, com a ida de Erasmo Silva para Buenos Aires, a dupla se desfez. Em 1939 foi apresentado por Germano Augusto ao bicheiro e malandro conhecido por China, a quem venderia muitas músicas. Nessa época, sua temática sofreu modificações, ditadas não só pela associação a novos parceiros, mas principalmente pela influência direta de uma portaria governamental que proibia a exaltação da malandragem.

Ainda em 1939, fez com Ataulfo Alves Mania da falecida e Oh! seu Oscar, samba que se destacou no Carnaval de 1940, vencendo o concurso de músicas carnavalescas do Departamento de Imprensa e Propaganda do governo federal, tendo sido gravado por Ciro Monteiro, intérprete que lançou em disco, também no mesmo ano, os seus sambas Tá maluca (com Germano Augusto) e O bonde de São Januário (com Ataulfo Alves), este último grande sucesso no Carnaval de 1941.

Consagrado desde então, iniciou, com diversos parceiros famosos, uma série de composições, retratando tipos cariocas, que conseguiram êxito na maioria dos Carnavais dos vinte anos seguintes. Ainda em 1940, Moreira da Silva gravou Acertei no milhar (com Geraldo Pereira), que se tornou um dos clássicos do samba de breque; em 1941, Vassourinha lançou em disco outra música sua que se destacou no Carnaval de 1942, Emília, feita com Haroldo Lobo, seu parceiro ainda em Rosalina, destaque carnavalesco de 1945.

Homenageando a torcida do Vasco da Gama, apesar de rubro-negro, compôs com Augusto Garcez No boteco do José, que, na gravação de Linda Batista, fez sucesso no Carnaval de 1946. Três anos depois se destacaria com Pedreiro Valdemar, feito com Roberto Martins e gravado por Blecaute, e, em 1950, obteria enorme êxito com Balzaquiana (com Nássara), lançado em disco por Jorge Goulart. Sua marcha Sereia de Copacabana e o seu samba Mundo de zinco (ambos com Nássara), este gravado por Jorge Goulart, foram muito cantados nos Carnavais de 1951 e 1952, respectivamente.

Para o Carnaval de 1956 compôs com Jorge de Castro a marcha Todo vedete, que teve problemas com a censura por suas referências ao baile dos travestis do Teatro João Caetano; com o mesmo parceiro fez, para o Carnaval dos dois anos seguintes, Vagabundo e Marcha da fofoca, sendo esta última gravada pelo radialista César de Alencar. O Carnaval de 1962 foi um dos últimos de que participou, lançando, em gravação de César de Alencar, Cara boa, marcha feita com Jorge de Castro e Alberto Jesus.

Boêmio até o fim da vida, nos seus últimos anos trabalhou como fiscal da UBC (União Brasileira de Compositores), entidade que ajudou a criar. Foi enterrado na tumba da UBC, no Cemitério do Catumbi.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

1905 ~ 1978


Ismael Silva



Mílton de Oliveira Ismael Silva, cantor, compositor e violonista. Y 14/9/1905, Jurujuba, Niterói, RJ - V 14/3/1978 de enfarte.

Filho de Benjamim da Silva e Emília Corrêa Chaves.

Quando Ismael tinha apenas três anos seu pai faleceu. Seu Benjamim trabalhava como cozinheiro de um hospital, e ao falecer, deixou sua esposa sem recursos para criar seus cinco filhos pequenos. Desamparada, d. Emília apelou para os parentes, que ficaram cuidando de seus seus quatro filhos mais velhos e mudou-se para o Rio de Janeiro, no bairro do Estácio, com o caçula Ismael, para tentar a vida como lavadeira.

Aos sete anos Ismael descobriu que queria estudar. Como sua mãe não atendia a seus apelos de levá-lo à escola, o jovem garoto resolveu seu problema sozinho, de acordo com seu próprio depoimento1 : "(...) um dia, sem ninguém saber, entrei pelo colégio adentro (...). Cheguei na primeira sala, que era da diretora e tal, e ela me perguntou o que eu queria. Eu disse que queria estudar. Tinha fome de saber, eu quero saber ler e tal... Então criou-se um caso: a diretora me chamou... parou as aulas e as professoras vieram para assistir aquilo... era uma coisa diferente...". Matriculado e feliz, Ismael conta que foi um aluno muito aplicado; suas notas eram as mais altas da escola e os professores o escolheram como monitor para ajudar os colegas com dificuldade.

Durante sua juventude Ismael morou em outros bairros, (Rio Comprido e Catumbi) mas voltou ao Estácio, na mesma época em que terminou o ginásio, aos 18 anos. Já compunha e tocava tamborim. Ainda não tocava violão, instrumento que aprendeu muitos anos depois de ficar famoso no meio artístico. Ou seja, para compor precisava apenas batucar. Letra e música nasciam juntas, simultaneamente; Sua primeira composição, o samba Já desisti, nunca foi gravada. Já Me faz carinhos, seu primeiro sucesso, foi gravado em 1925 pelo pianista Orlando Thomás Coelho, conhecido como Cebola. Essa música foi responsável pela aproximação de Francisco Alves e Ismael Silva. O cantor, já muito conhecido, estava interessado pelas belas composições do sambista do Estácio, principalmente Me faz carinhos, e propôs ao compositor que lhe desse exclusividade e parceria, e em troca gravaria todas as suas composições. Empolgado, Ismael não hesitou, e aproveitou para incluir no negócio o seu parceiro, Nílton Bastos, formando assim um trio, que posteriormente ficou conhecido como Bambas do Estácio. Ismael e Nílton compunham e Francisco Alves gravava, entrando também na autoria. Mas em algumas composições da dupla (ou trio) só constava o nome de Francisco Alves. Ofendido, Nílton reivindicou seus direitos. A partir daí as músicas apareciam sempre com o nome dos três.

O Estácio, na década de 20, era um reduto de bons compositores como Rubem Barcelos, seu irmão Bide (Alcebíades Barcelos), Marçal, Edgar Marcelino, Brancura, Nílton Bastos, entre outros, que promoviam famosas rodas de samba. O carnaval carioca ainda era comemorado de forma violenta; os foliões jogavam água suja uns nos outros, quando não farinha, ovos, laranja podre, etc., heranças do famoso entrudo. Diante de inúmeros protestos da polícia, o entrudo foi sendo substituído pelos blocos, cordões e ranchos, sendo este último o responsável pela figura do mestre-sala, da porta-estandarte e de passistas ricamente fantasiados. Os ranchos tinham música própria, cadenciada e foliões bem-comportados que marchavam pelas ruas ao som da marcha-rancho. Esse ritmo lento não agradava os foliões das novas gerações, que buscavam algo mais alegre para o carnaval. Pensando nisso, e também em se livrar da perseguição policial que sofriam, em 1928 Ismael e seus companheiros do Estácio formaram um bloco chamado Deixa falar, que desfilou em 1929 ao som de um ritmo mais acelerado do que o ritmo dos ranchos, com surdos e tamborins marcando esse novo andamento, o samba. Esse bloco foi o precursor das Escolas de Samba, e o curioso nome Deixa falar surgiu porque outros blocos ou "agrupamentos" de outros bairros criticavam muito os sambistas do Estácio, que respondiam simplesmente com a expressão "Deixa falar". Já a palavra "escola", segundo Ismael, surgiu baseada no fato de haver uma escola de ensino normal nas imediações do bairro. Se aquela era uma escola "normal", que formaria professores para a rede escolar, a Deixa falar seria uma escola de samba, pois formaria professores de samba! A Escola desfilou de 1929 a 1931, e consta que não teve continuidade pela perda de dois de seus fundadores, Nílton Bastos, que morreu de tuberculose em 8 de setembro de 1931 e Edgar Marcelino, que foi assassinado em 25 de dezembro do mesmo ano. Desiludido, Ismael mudou-se para o Centro, e a Escola, que já tinha plantado a semente das escolas de samba, teve seu precoce fim.

Com a morte de Nílton Bastos o trio ficou desfalcado, porém Ismael continuava compondo e dando parceria para Chico Viola. Alguns amigos do sambista do Estácio tentaram alertá-lo. Francisco Alves sempre saía ganhando, explorava o compositor. Sem alternativas, ou talvez por puro comodismo, mas consciente e incomodado, Ismael manteve a "parceria". As coisas caminharam tranqüilas até que Ismael, por acaso, conheceu o compositor Noel Rosa. O Rei da Voz estava conversando num bar com Noel quando Ismael chegou com um refrão fresquinho, que tinha acabado de compor. Impressionado com a beleza do estribilho, Noel se ofereceu para fazer a segunda parte. Francisco Alves, empolgado com o talento dos dois compositores, convidou Noel para substituir Nílton Bastos na parceria. O poeta da Vila aceitou, mas como já conhecia os "métodos" do cantor, se preveniu - impôs a condição de que o que fosse feito só por ele não teria parceria. Francisco Alves concordou. Formou-se assim um novo trio, que também ficou conhecido como Bambas do Estácio, além de Batutas do Estácio, Gente Boa e Turma da Vila. Noel e Ismael compunham e geralmente faziam coro nas músicas que Chico gravava, tendo seu nome incorporado à dupla. Noel Rosa, que também tinha feito negócios em troca de composições com Francisco Alves, insistiu muito para que Ismael se tornasse independente.

A "parceria" Noel/Ismael/F. Alves durou até 1934, ano em que Ismael criou coragem para se desvencilhar de Francisco Alves. Afinal, o sambista já era conhecido no meio artístico e vários intérpretes o procuravam para gravar suas músicas; não dependia mais de Chico Viola. Além de sentir-se explorado, Ismael sentia-se humilhado; O Rei da Voz tinha o hábito de apresentar Ismael em seus shows como "o preto de alma branca". Isso magoava muito o sambista do Estácio. Mas de fato o grande problema era a exploração de Francisco Alves, que exigia exclusividade por parte de Ismael e Noel, e, no entanto, gravava músicas de todo mundo. Influenciado por Noel Rosa e outros compositores do meio Ismael pôs fim a esse acordo do qual ele levava sempre a menor parte. Rumo à independência com uma carreira voltada para o sucesso.

Mas a vida dá muitas voltas, e a de Ismael mudou radicalmente. Envolveu-se numa briga de bar e atirou em Edu Motorneiro, um cidadão conhecido nas rodas boêmias cariocas, sem no entanto matá-lo. As razões para ter cometido tal loucura são controversas. Uns dizem que foi para defender sua irmã Orestina, outros dizem que os dois homens estavam disputando a mesma mulher, brigas de ciúme. A segunda hipótese foi rejeitada pelos que conheceram Ismael, pois diziam que não era essa a preferência sexual do compositor. Por mais que tentasse disfarçar, os boatos corriam no meio artístico. Realmente, o único romance de Ismael de que se tem notícia foi com uma passista do Estácio, Diva Lopes Nascimento, em 1936, que durou um mês e gerou uma filha, Marlene Martins Batista. Esse fato só veio ao conhecimento do público no dia da morte de Ismael. Sua filha declarou que o pai não quis registrá-la, mas sabia de sua existência. Ismael só aproximou-se dela no fim da vida. Nenhum outro relacionamento do compositor tornou-se público. Enfim, preso em flagrante, Ismael foi condenado a cinco anos de prisão. "Malandro, inveterado jogador de chapinha, tentando viver de samba numa época em que sambista era quase sinônimo de vagabundo, tinha sido preso inúmeras vezes."2 Envergonhado, o sambista refugiou-se em Teresópolis até o julgamento. Pelo seu bom comportamento enquanto esteve preso, Ismael não precisou cumprir os cinco anos de pena, mas dois. Quando saiu da cadeia estava completamente deslocado; Francisco Alves, antes seu "parceiro", sentindo-se "traído" agora não queria saber mais dele; Noel Rosa, seu grande amigo, morreu quando Ismael ainda estava na cadeia; "(...) um homem de brio, sensível e orgulhoso, Ismael se deixaria dobrar ao peso da vergonha de ser um ex-convicto. Passou a evitar os amigos, o meio artístico, os lugares de sempre. Tinha medo que lhe fizessem perguntas sobre o que tanto queria esquecer. Enfim, desapareceu. Houve até quem o julgasse morto. Sozinho, triste, sem dinheiro, perambulou por aí."3 Sabe-se que foi morar com uma irmã e alguns sobrinhos, mas de repente desapareceu. E só voltou ao convívio dos amigos e familiares a partir da década de 50, quando teve seu grande sucesso Antonico gravado por Alcides Gerardi.

Com sérios problemas financeiros Ismael vivia às custas de minguados direitos autorais, quase uma ninharia. Sempre desempregado, "ele dizia que considerava o samba como seu único trabalho. Mas sabe-se que trabalhou na Central, como chefe de turma da segurança interna e foi auxiliar em um escritório de advocacia. Serviços leves e temporários, pois foi curta sua permanência neles."4

Em 1960 Ismael ganhou dois títulos: Cidadão Samba, numa iniciativa do jornalista Sérgio Cabral, e Carioca Honorário, numa homenagem da Câmara dos Vereadores. Três anos depois ficou muito doente, sofrendo com uma úlcera varicosa. Em 1964 fez algumas apresentações no ZiCartola; Em 1965, participou ao lado de Aracy de Almeida do musical O samba pede passagem, no Teatro Opinião, gravado ao vivo. Nesse mesmo ano seu nome apareceu muito nos jornais. Sem dinheiro, o compositor não tinha meios para assistir ao desfile das escolas de samba. Ismael nunca escondeu o fato de não gostar da transformação que as escolas de samba sofreram, com o passar dos anos. Ele dizia que era um espetáculo bonito, mas agora uma brincadeira cara, sofisticada, não mais acessível ao povo. Mas nem por isso queria abandonar sua criação. Passou a dar entrevistas para ver se conseguia um meio de assistir de perto aquilo que ajudou a criar: "Sou sambista; quer dizer, sou pobre. Tive que me virar e pedir a todo mundo para dar um jeito de eu ir à Presidente Vargas"5. Como não conseguiu o ingresso, o compositor deu nova declaração ao jornal : "É injusto que a criação receba auxílio do governo, enquanto o criador cai no esquecimento".6 No ano seguinte as coisas melhoraram. O compositor foi convidado pelas autoridades do Rio para assistir ao desfile e pelo MIS - Museu da Imagem e do Som, para dar seu primeiro depoimento. Além disso o sambista participou de uma série de shows em universidades, sendo reconhecido como um mito da MPB, ou ainda nas palavras de Vinícius de Moraes, "São Ismael", um apelido carinhoso.

Muito cansado, no fim da década de 60, Ismael ainda estava doente. Buscou ajuda na religião e passou a freqüentar a Igreja Messiânica diariamente. Em 1970, o bar Jogral em São Paulo, reduto da MPB na ocasião, resolveu homenageá-lo. Como estava sentindo-se bem, Ismael viajou para SP, e aproveitou para fazer algumas apresentações e programas de TV.

A genialidade de Ismael está contida em suas músicas. Sua obra influenciou diversos compositores de várias décadas, entre tantos, Chico Buarque. "Em 1972, no seu aniversário, Ismael recebeu um presente muito especial: um bilhete de Chico Buarque de Holanda, que dizia: ‘Ismael, você está cansado de saber da minha admiração pelos seus sambas. Você sabe o quanto lhe devo por toda sua obra. O Sérgio Cabral está lhe entregando o meu presente pelo seu aniversário. É muito menos do que você merece. Um grande abraço, de coração.’ Junto com o bilhete, o presente: um envelope com um cheque."7

Suas apresentações foram ficando esporádicas. Em 1973, Ricardo Cravo Albim produziu o show Se você jurar, com Ismael e a cantora Carmen Costa; ambos iniciaram a carreira com Francisco Alves. Ismael, como compositor exclusivo do Rei da Voz e Carmen, como empregada doméstica do cantor. Dois anos depois o compositor foi homenageado pela Escola de Samba Canarinhos da Engenhoca, de Niterói. Ismael desfilou emocionado e confessou que esse foi um dos melhores carnavais de sua vida.

Em dezembro de 1977 Ismael foi operado da úlcera varicosa que tinha na perna. No ano seguinte, um pouco antes do Carnaval, teve princípio de enfarte, mas foi socorrido a tempo. Mas, em 14 de março de 1978, um fulminante ataque cardíaco o levou. Seu corpo foi velado no MIS (RJ) e sepultado no Cemitério do Catumbi. Ismael Silva compôs um pouco mais de uma centena de músicas, a maioria sambas, e poucas marchas.

Principais sucessos :

* A razão dá-se a quem tem, Noel Rosa, Ismael Silva e F. Alves (1932)
* Adeus, Noel Rosa, Ismael Silva e Francisco Alves (1931)
* Aliás, Ismael Silva (1973)
* Amor de malandro, Ismael Silva, F. Alves e Freire Júnior (1929)
* Ando cismado, Noel Rosa e Ismael Silva (1932)
* Antonico, Ismael Silva (1950) Antonico com Alcides Gerardi (1950)
* Assim, sim, Noel Rosa, Ismael Silva e Francisco Alves (1932)
* Boa viagem!, Noel Rosa e Ismael Silva (1934)
* Coisa louca, Ismael Silva (1973)
* Com a vida que pediste a Deus, Ismael Silva (1939)
* Contrastes, Ismael Silva (1973)
* Dona do lugar, Noel Rosa, Ismael Silva e Francisco Alves (1932)
* Gosto, mas não é muito, Noel Rosa, Ismael Silva e F. Alves (1931)
* Liberdade, Ismael Silva e Francisco Alves (1931)
* Me diga o teu nome, Ismael Silva, Nílton Bastos e F. Alves (1931)
* Nem é bom falar, Ismael Silva, Nílton Bastos e F. Alves (1930)
* Novo amor, Ismael Silva (1929)
* O que será de mim?, Ismael Silva, Nílton Bastos e F. Alves (1931)
* Para me livrar do mal, Noel Rosa e Ismael Silva (1932)
* Quem não quer sou eu, Noel Rosa e Ismael Silva (1933)
* Se você jurar, Ismael Silva, Nílton Bastos e Francisco Alves (1930) Se você jurar com Mário Reis e Francisco Alves (1930)
* Sofrer é da vida, Ismael Silva, Nílton Bastos e F. Alves (1931)
* Tristezas não pagam dívidas, Ismael Silva (1932)
* Uma jura que fiz, Noel Rosa, Ismael Silva e Francisco Alves (1932)

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

AGENDA:

DIA: 16/12 "PROJETO QUINTA VIVA DO SAMBA " BECO DA LAMA.ÀS 19:00HS

DIA:18/12 FESTA PARTICULAR ÀS 13:00HS

DIA:19/12 FESTA PARTICULAR ÀS 13:00HS


DIA:21/12 TAVERNA PUB ÀS 22:30

DIA 23/12 QUINTA VIVA DO SAMBA BECO DA LAMA ÀS 19:00HS!!ULTIMO SAMBA DO ANO VAMOS VENHA FESTEJAR JUNTO COM O GRUPO ARQUIVO VIVO!!!!!



DIA:06/01 BECO DA LAMA PRIMEIRO SAMBA DO ANO.ÀS 19:00HS


DIA:08/01 SEIS EM PONTO PRAIA EM PIRANGI ÀS 14:00HS

DIA:13/01 BECO DA LAMA ÀS 19:00 ÀS 19:00HS

DIA:20/01 BECO DA LAMA ÁS 19:00HS

DIA:22/01 SEIS EM PONTO PRAIA EM PIRANGI ÀS 14:00HS.

arquivo vivo

Paulo da Portela

Paulo Benjamim de Oliveira, mais conhecido como "Paulo da Portela", nascido em 17 de junho de 1901, teve um infância difícil no bairro da Saúde, no Rio de Janeiro. Ainda novo, seu pai abandona a família deixando a mãe de Paulo com três filhos para criar sozinha. Paulo deixou os estudos para ajudar a família, trabalhando como entregador de marmitas e lustrador de móveis.

Na década de 20 a família se muda para o bairro de Oswaldo Cruz, subúrbio do Rio, onde os moradores já cantavam e dançavam o jongo e nessa época o samba começava a tomar seu espaço. Foi quando começou a tomar gosto pelo samba e conheceu gente como Ismael Silva, Baiaco e Brancura, sambistas do Estácio.

Paulo da Portela foi o grande organizador do samba em Oswaldo Cruz. Muito além disso, sua simpatia e determinação fizeram dele um líder comunitário e uma referência cultuada pelos moradores do bairro. Tinha consciência de que a arte de Oswaldo Cruz era rica e poderia tornar-se profissional, daí a preocupação em diferenciar a imagem do sambista do malandro vadio perseguido pela polícia. Paulo era conhecido por "professor" e é assim que muitos sambistas, ainda hoje, se referem a ele.

Em 1922 criou com seus companheiros, Antônio Rufino e Antônio Caetano o bloco Baianinhas de Oswaldo Cruz. Em 1930 o grupo se apresentou pela primeira vez como Escola de Samba, com o nome "Quem Nos Faz É O Capricho" e a partir de 1931, desfilou com o nome de "Vai Como Pode".

Foi nessa época que, Paulo resolveu adotar um nome artístico para diferenciá-lo de outro compositor de Bento Ribeiro com o mesmo nome. Passou então a ser conhecido como "Paulo da Portela", nome que faz referência à Estrada do Portela, lugar onde após várias mudanças a escola de samba do bairro estabeleceu sua sede.

Em 1935 a Vai como Pode ganha o carnaval com um samba de Paulo e como retribuição pelo samba vencedor a escola muda de nome. Nascia o Grêmio Recreativo Escola de Samba Portela, 21 uma vezes campeã e escola com maior número de títulos do carnaval carioca. No mesmo ano Paulo ganha do jornal "A Nação" o título de maior compositor de samba do brasil.

Um fato curioso: Certo dia, lá pelo início dos anos 80, um pai de santo apareceu no terreiro da portela e pediu para ver o organizador do desfile. Ao encontrá-lo ofereceu-lhe um compo de cachaça, que o portelence se recusou a tomar. Foi rogada uma praga sobre a escola dizendo que a Portela ficaria 25 anos sem ganhar um carnaval. A Portela não conquista um título desde 1984, há exatos 25 anos!

Durante a década de 40 apresentou na Rádio Cruzeiro do Sul o programa A Voz do Morro, ao lado de Cartola e Heitor dos Prazeres.

Em 1941, após um desentendimento em pleno desfile, Paulo rope relações com sua querida Portela, logo após a escola vencer mais um carnaval com um samba de sua autoria. Paulo deixou com grande tristeza a escola que fundou, e sua mágoa ficou registrada no seu samba "O meu nome já caiu no esquecimento".


"O meu nome já caiu no esquecimento
O meu nome não interessa a mais ninguém
E o tempo foi passando, a velhice vem chegando
Já me olham com desdém

Ai quanta saudade do passado
Que se vai lá no além

Chora cavaquinho chora, chora violão também
O Paulo no esquecimento não interessa a mais ninguém
Chora Portela, minha Portela querida
Eu que te fundei, serás minha toda a vida"


Em 31 de janeiro de 1949, contrariando seus versos, o Rio de Janeiro parou. A poucas semanas do carnaval, Paulo da Portela morria com 47 anos, vítima de um ataque cardíaco.

O comércio do bairro de Madureira fechou e mais de 15 mil pessoas foram em luto se despedir do poeta, caminhando de sua casa, no subúrbio de Oswaldo Cruze cantando seus sambas até o cemitério de Irajá.

Vinicius Terror

Fontes de consulta:
André Diniz - Almanaque do Samba
www.pstu.org.br/cultura
www.samba-choro.com.br

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Riachão nasceu Clementino Rodrigues em Língua de Vaca, bairro do Garcia, em Salvador. O dia 14 de novembro de 1921 entra para a história da música baiana como o dia do nascimento de seu sambista mais representativo. Seu modo peculiar de compor tem características de crônica. Em suas letras, quase sempre irreverentes, desfila o povo baiano da antiga Salvador, com suas baianas de acarajé, seus malandros de terno branco e seus capoeiras atrevidos. O apelido ‘Riachão’, segundo o sambista revelou ao extinto jornal Diário de Notícias, o acompanha desde a infância: ‘Quando menino, eu gostava muito de brigar. Mal acabava uma peleja, já estava eu disputando outra. E aí chegavam os mais velhos para apartar, empregando aquele ditado popular: você é algum riachão que não se possa atravessar?’.

Sambista Atrevido

Desde os 9 anos de idade, Riachão já cantava nas serenatas ou nas batucadas do bairro do Garcia. Gostava de batucar em latas d’água. A primeira composição veio aos 12 anos, um samba sem título que dizia: ‘Eu seu que sou moleque, eu sei / conheço o meu proceder / deixe o dia raiar que a minha turma / é boa para batucar’.

Aos 23 anos, ingressa na Rádio Sociedade, onde canta com um trio vocal no programa de auditório ‘Show Pindorama’, da emissora de rádio Sociedade AM. O trio de Riachão interpretava de serestas à toadas sertanejas. Riachão não demora a romper com o trio e se apresentar sozinho – queria, na verdade, se dedicar apenas ao samba, sob forte inspiração de Dorival Caymmi.
Depois de Caymmi, por sinal, Riachão foi o primeiro compositor baiano a gravar no Rio de Janeiro, ainda na década de 50. As músicas foram ‘Meu Patrão’, ‘Saia’ e ‘Judas Traidor’, todas gravadas por Jackson do Pandeiro.

Ele opta por seguir o caminho do samba irreverente, compondo sambas bem-humorados como ‘Retrato da Bahia’ e ‘Bochechuda e Papuda’, ganhando o Troféu Gonzaga com essas músicas. Mais tarde foi gravado pelo cantor Eraldo Oliveira (‘A Nega não quer Nada’) e pela cantora Marinês (‘Terra Santa’).

Umbigão da Baleia

Entre 1948 e 1959, Riachão compos pérolas como ‘A Morte do Motorista da Praça da Sé’, ‘A Tartaruga’, ‘Visita da Rainha Elisabeth’ e ‘Incêndio no Mercado Modelo’, verdadeiras crônicas, escritas em linguagem popular e direta. Na década de 60, um fato inusitado acabou virando samba: uma baleia chamada ‘Moby Dicky’ veio ser exposta para visitação pública na Praça da Sé, causando imenso furor entre as crianças. Com o olhar do cronista, Riachão compos a ‘Umbigada da Baleia’. O senso quase jornalístico de Riachão também pode ser conferido no samba ‘A Morte do Alfaiate’, também dessa época.

Anos 70 e Registros Fonográficos

Apesar de reconhecido pela crítica e por grandes artistas da MPB, Riachão não consegue se inserir no mercado. Os shows são raros e são poucos os registros fonográficos (o único até então era o compacto de 78 rpm de ‘Umbigada da Baleia’, gravado nos anos 60). Por iniciativa de Paulo Lima e da gravadora Philips, em 75 ele grava um álbum reunindo a nata do samba baiano. O ‘Samba da Bahia’ traz, além de Riachão, os sambistas Batatinha e Panela. Entre os sambas gravados se destacam ‘Pitada de Tabaco’, ‘Ousado é Mosquito’ e ‘Até Amanhã’.


Caetano & Gil

Em 1972, Caetano Veloso e Gilberto Gil voltam do exílio em Londres. Em Salvador, pretendem escolher a música de um compositor baiano para marcar sua volta ao mercado fonográfico nacional. A escolhida foi ‘Cada Macaco no seu Galho’, de Riachão, que estourou nas rádios do País. Nos anos de chumbo da Ditadura Militar, Riachão tem um samba proibido pela Censura. A música se chamava ‘Barriga Vazia’ e a letra falava da fome: ‘Eu, de fome, vou morrer primeiro / você, de barriga, também vai morrer um dia’. A notícia da censura corre a cidade e, num show, no ICBA, em 1976, a platéia universitária exige que Riachão a cante. O público pede com tanto entusiasmo que os músicos começam a executá-la e Riachão se vê obrigado a cantar o samba, fato que repercutiu na imprensa como uma ‘provocação’ do sambista aos militares.

Sonho de Malandro e o Ostracismo

Em 1973 grava o álbum ‘Sonho de Malandro’, patrocinado pelo Desenbanco em comemoração aos 15 anos da empresa onde trabalhava desde 71. No disco, predominam os sambas maliciosos que também identificam a sua obra, temperados com metais, acordeon, flauta, coro de pastoras e até um regional de choro. Destacam-se as faixas ‘Quando o Galo Cantou’ e ‘Eu também Quero’, que relata o aparecimento do tíquete-refeição: ‘Essa turma que trabalha muito cedo/ vem a fome que faz medo/ e faz a barriga roncar/ vai no caixa compra tique/ pega tique/ leva o tique/ dá o tique/ para poder almoçar’. O disco, porém, não emplaca, vende pouco, é mal divulgado. E Riachão cai num relativo ostracismo artístico, se apresentando apenas para platéias universitárias, no Rio de Janeiro.

Novo Registro em 2000

Depois de um hiato de quase 20 anos, Riachão grava um CD somente em 2001, onde o sambista divide as faixas com nomes como Caetano Veloso (‘Vá Morar com o Diabo’) e Dona Ivone Lara (‘Até Amanhã’), entre outros. Todos os seus maiores sucessos são registrados

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Paulo César Pinheiro

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Paulo César Pinheiro


Eu vi uma velha, um velho e vi um menino.
E sobre as mãos e o colo da anciã
Eu vi a renda, a agulha, o bilro e a lã
Com que tecia as malhas do Destino.


Eu vi uma velha, e vi um menino e um velho.
E o quase cego olhar desse ancião
Tentava achar em nosso coração
Vestígio ao menos de seu Evangelho.


Eu vi um menino, um velho e vi uma velha.
E esse menino me arrastava a ela.
E a luz do velho se fechava em breus.


Chama-se Tempo esse menino forte.
E a costureira, pois, chama-se Morte.
E o velho cego, então, chama-se Deus.


Paulo César Pinheiro nasceu na cidade do Rio de Janeiro aos 28/04/1949. Com seu primeiro parceiro, João de Aquino, compôs "Viagem", em 1964. A partir de 1965 deu início à parceria com o violonista Baden Powell, que durou muitos anos e abriu as portas do sucesso para sua poesia. "Lapinha", "Quaquaraquaqua", "Aviso aos navegantes" e "Refém da solidão" foram algumas das canções que surgiram nessa época. É parceiro de inúmeros compositores nacionais, tendo mais de 1.500 composições de sua lavra. Em 1983 lançou o LP "Poemas Escolhidos", registrando 33 poemas de sua autoria. Tem três livros publicados: "Canto Brasileiro" (1973), "Viola Morena" (1984) e "Atabaques, Violas e Bambus" (2000). Em 2003, foi agraciado com o Prêmio Shell de Musica Brasileira.


Poema extraído do livro "Viola Morena", Edições Tempo Brasileiro – Rio de Janeiro, 1984, pág. 33.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Noel Rosa



Noel de Medeiros Rosa, cantor, compositor, bandolinista e violonista. Y 11/12/1910 , Rio de Janeiro, RJ - V 04/05/1937, Rio de Janeiro, RJ.

O pai, Manuel Garcia de Medeiros Rosa, era comerciante, e a mãe, Martha de Medeiros Rosa, professora. O único irmão, Hélio de Medeiros Rosa, era 4 anos mais novo.

Proveniente de uma família de classe média baixa, Noel carregaria pelo resto de sua vida as marcas de um parto forçado que lhe causara fratura e afundamento do maxilar inferior, além de ligeira paralisia facial no lado direito do rosto. Foi operado aos 6 anos e, aos 12, colocou uma prótese.

De 1913 a 1928 Noel estudou no tradicional colégio São Bento. Nessa época, por mau gosto dos colegas, recebeu o apelido de "queixinho".

Aos 13 anos aprendeu a tocar bandolim de ouvido, com a mãe, fato marcante em sua vida, pois a partir daí, percebera que a sua grande habilidade instrumental tornava-o importante diante de outras pessoas. Do bandolim para o violão, foi um passo. Em 1925, dominava completamente o instrumento, participando ativamente das serenatas do bairro.

Enquanto Noel ensaiava os primeiros acordes musicais, estava em voga a música nordestina e os conjuntos sertanejos. O garoto logo se interessou pelas canções, toadas e emboladas da época. Acompanhando a novidade, um grupo de estudantes do Colégio Batista e mais alguns moradores do bairro de Vila Isabel formaram um conjunto musical, denominado "Flor do Tempo". Reformulado para gravar em 1929, o grupo passou a se chamar "Bando de Tangarás". Alguns de seus componentes se tornariam mais tarde grandes expoentes de nossa música: João de Barro, Almirante, e Noel, que já era um bom violonista.

Ainda em 1929, compôs as suas primeiras músicas. Dentre elas a embolada Minha viola e a toada Festa no céu. Em 1930, conheceu seu primeiro grande sucesso Com que roupa, apresentado em espetáculos do Cinema Eldorado. Já se podia notar sua veia humorística e irônica, além da crônica da vida carioca, marcante em toda a sua obra. Em 1931 ainda compunha músicas sertanejas como Mardade de cabocla e Sinhá Ritinha, optando depois definitivamente pelo samba. Em apenas 8 anos de atividade compôs 259 músicas e teve mais de 50 parceiros.

Em 1931 entrou para a faculdade de Medicina, sem, no entanto, abandonar o violão e a boemia. O samba falou mais alto pois largou o curso meses depois.

A partir de 1933 travou a famosa polêmica musical com o compositor Wilson Batista.

Nesse mesmo ano conheceu sua futura esposa, Lindaura, que quase lhe deu um filho: ao cair de uma goiabeira no quintal de sua casa, Lindaura perdeu o bebê

Apesar de fortes problemas pulmonares, Noel não largava a bebida e, com bom humor e ironia, formulou uma teoria a respeito do consumo de cerveja gelada. Segundo ele, a temperatura fria da cerveja acabava paralisando os micróbios, livrando-o da tosse. Com isso, ia ludibriando os amigos e a si mesmo.

Por essa ocasião Noel precisou transferir-se para Belo Horizonte devido à lesão pulmonar que o acometera subitamente. A capital mineira tornara-se o local ideal para o tratamento prolongado. Lá não havia bares, nem botequins ou as estações de rádio que Noel freqüentava tanto.

A viagem à capital mineira surtiu efeito temporariamente; Noel havia engordado 5 quilos e apresentava sinais de melhora. Entretanto, a boemia falou mais alto. Não tardaria muito para que o compositor descobrisse os segredos da vida noturna da capital mineira, entregando-se novamente às cantorias e bebedeiras. Noel e a esposa estavam instalados na casa de tios que, ao descobrirem as saídas noturnas às escondidas de Noel, mandaram o casal de volta ao Rio.

Nos últimos meses de 1936, Noel não mais saía, preferindo evitar as pessoas, sobretudo as que o questionavam sobre o seu estado de saúde. A única pessoa que o poeta visitava era o sambista e compositor Cartola, lá no morro.

No início de 1937, numa outra tentativa de recuperação, Noel e Lindaura rumaram para Nova Friburgo, em busca do ar puro da montanha. Em vão, pois Noel se deprimia, sentindo falta da Vila Isabel.

Ao voltar para o Rio, a doença já havia o tomado por inteiro; sentia-se fraco, melancólico, apático. Alguns amigos sugeriram-lhe que passasse uns tempos na tranqüila cidade de Piraí (RJ). Mais uma vez, o casal partiu rapidamente, mas, certa noite, Noel sentiu-se muito mal, tendo que retornar às pressas para casa. Já se sabia que o poeta se encontrava em fase terminal. Na noite de 4 de maio deste mesmo ano, nos braços de Lindaura, em seu quarto no chalé, Noel veio a falecer de tuberculose aos 26 anos de idade. A notícia não pegou ninguém de sobressalto, pois, a essa altura, a sua morte já era dada como certa.

Principais sucessos :

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Adeus, Noel Rosa, Ismael Silva e Francisco Alves, 1931
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A.E.I.O.U.,Noel Rosa e Lamartine Babo, 1931
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Até amanhã, Noel Rosa, 1932
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Cem mil réis, Noel Rosa e Vadico, 1936
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Com que roupa?, Noel Rosa, 1929 Com que roupa com Noel Rosa (1930)
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Conversa de botequim, Noel Rosa e Vadico, 1935
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Coração, Noel Rosa, 1932
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Cor de cinza, Noel Rosa, 1933
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Dama do cabaré, Noel Rosa, 1934
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De babado, Noel Rosa e João Mina, 1936
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É bom parar, Noel Rosa e Rubens Soares, 1936
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Feitiço da Vila, Noel Rosa e Vadico, 1936
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Feitio de oração, Noel Rosa e Vadico, 1933
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Filosofia, Noel Rosa e André Filho, 1933
* Fita amarela, Noel Rosa, 1932
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Gago apaixonado, Noel Rosa, 1930
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João Ninguém, Noel Rosa, 1935
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Minha viola, Noel Rosa, 1929
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Não tem tradução, Noel Rosa, 1933
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O orvalho vem caindo, Noel Rosa e Kid Pepe, 1933
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O x do problema, Noel Rosa, 1936
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Palpite infeliz, Noel Rosa, 1935
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Para me livrar do mal, Noel Rosa e Ismael Silva, 1932
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Pastorinhas, Noel Rosa e João de Barro, 1934 Pastorinhas com Sílvio Caldas (1937)
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Pela décima vez, Noel Rosa, 1935
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Pierrô apaixonado, Noel Rosa e H. dos Prazeres, 1935 Pierrô apaixonado com Joel e Gaúcho (1935)
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Positivismo, Noel Rosa e Orestes Barbosa, 1933
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Pra que mentir, Noel Rosa e Vadico, 1937
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Provei, Noel Rosa e Vadico, 1936
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Quando o samba acabou, Noel Rosa, 1933
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Quem dá mais?, Noel Rosa, 1930
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Quem ri melhor, Noel Rosa, 1936
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São coisas nossas, Noel Rosa, 1936
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Tarzan, o filho do alfaiate, Noel Rosa, 1936
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Três apitos, Noel Rosa, 1933
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Último desejo, Noel Rosa, 1937 Último desejo com Arai de Almeida (1937)
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Você só...mente, Noel Rosa e Hélio Rosa, 1933